quinta-feira, 21 de junho de 2012

Sobre contar histórias

Por Jaqueline Gomes

Me permitam dialogar um pouco sobre com o que encontrei em um livro. Li, recentemente, "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", de Fernando Morais. E me dei conta de uma relação possível com o nosso Eu Acredito. Estranho, não é? Mas eu explico. Quero falar da apuração, do senso crítico, do feeling, dos jornalistas e, claro, de mais uma possibilidade de trabalho.

Equanto trabalhamos para encerrar o nosso ciclo em Produção em Telejornalismo II, com o especial Lendas estamos nos debruçando sobre histórias de conhecimento popular, porém nunca comprovadas. Por isso, são lendas ou mitos. Por que, então, elas são pauta do nosso programa? Porque nós, futuros jornalistas, sabemos contar histórias, não mentiras. Não tomamos por verdadeiras as informações, antes expomos fatos, ideias, opiniões, exemplos, ilustrações, para que o púlico aceite ou não o que está posto. Contribuímos para formar opiniões e, assim, construímos realidades.

E lá vai outra pergunta: o que isso tem de relação com "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", entre tantas obras de Fernando Morais? Simples: a habilidade de apurar e contar histórias. No caso da obra em questão, os fatos são reais, mas muitos não podem ser comprovados técnica ou cientificamente. Daí reside a apuração, a desconfiança para não se deixar levar por falsas verdades. E,aí sim, mostrar todos os lados da história. 

Imagem extraída do blog da Companhia das Letras
Aproveito para contar um pouco mais do autor, que abandonou a rotina das redações ainda na década de 70. De lá para cá, dedicou-se aos livros. Autor de Olga; Chatô – o rei do Brasil; Corações Sujos; A ilha e Cem Quilos de Ouro, todos publicados pela Companhia das Letras, entre outras publicações, o jornalista e escritor concebeu a ideia de contar a história dos agentes de inteligência cubanos infiltrados em organizações anticastristas da Flórida em setembro de 1998, quando ouviu no rádio a notícia da prisão de 10 soldados pelo FBI. Por anos, tentou, em vão, romper a barreira do silêncio em torno da trama.

O livro só deu os primeiros passos em fevereiro de 2005, quando viajou para Cuba para participar da Bienal do Livro de Havana. Na véspera da viagem de volta ao Brasil, recebeu do presidente da Assembleia Nacional, Ricardo Alarcón, o comunicado de que lhe seriam liberados os documentos dos serviços de inteligência da Ilha sobre a rede que Cuba infiltrara no coração de organizações de extrema direita da Flórida. Mas as pesquisas só começaram a andar mesmo a partir de 2008. De lá até a publicação do livro, em 2011, foram cerca de 20 viagens a Havana, Miami e Nova York, para ouvir todos os lados da história. Entrevistou, inclusive, mercenários estrangeiros que haviam sido presos depois de colocar bombas em hotéis e restaurantes turísticos de Cuba e que tinham sido condenados à morte. Nos Estados Unidos foi mais difícil. Só conseguiu declarações em off porque os agentes do FBI são proibidos de dar declarações públicas. O tema era tratado como segredo de Estado.

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